sexta-feira, 15 de outubro de 2010

É felicidade, sim senhor.

Faz um café bem forte, pra acordar. Gosto de dia bom que virá. Põe música baixinha e água fria pra despertar a pele, arrepio. Toalha macia, abre a janela, anda sem roupa e deixa o sol esquentar. Para em frente ao espelho, coloca uma fita no cabelo, uma flor, um sorriso na cara e vai.


Senta na mesa, brinda sozinha, café com queijo branco. Respira fundo, tranca a casa, sai. Dança no meio da rua que ninguém tá olhando, pode dançar, ô menina. Abre os braços pra girar, tá fazendo sol. Gira, gira, guria. Trata bem quem você encontrar pelo caminho, mesmo que você não conheça. Todo mundo precisa um pouco do que você tem aí dentro. É feitiço? Nada, é um pouco de carinho com um punhado de esperança, receita infalível. Daí você pode até misturar com mais bondade, que dá certo. Bondade sempre é tempero que rende.

Põe menos sal na comida, faz bem assim, suco de laranja, alface, agrião, acerola azedinha pra arrematar. Trabalha, estuda (o que você gosta de estudar?) Arte, responde. Se der tempo vai lá fora correr até o mar, mas volte antes que escureça. Pé sujo, sandália na mão, grãos de areia sujando o piso, vai lavar o banheiro e a cozinha que não tá dando não. Tome jeito. Tome a vassoura, o rodo, o balde e o pano.

Joga água pra tudo que é lado, bolinha de sabão. Escorrega, canta, esfrega o chão, desifetante tem cheirinho bom. No final de tudo os dedos ficam enrrugados, e aí ... pensa só em quando você ficar mais velha! A cada dia que passa, mais velha.

Dedos enrrugadinhos, limpeza e cheiro bom. Então deita um pouco na rede, que preguiça pouca é boa, mas desde que não seja muita. Pega um livro pra ler. Pega um pouco de terra preta e põe num vasinho, planta, cuida, cuida com bastante amor que é da mãe de tudo. Natural que seja da mãe, que flua, natureza. Flor que cresce, você rega, põe esperança nela que daí floresce, abrem-se vários botões. Abrem-se várias portas pra quem sabe cuidar. Cuida um cado de tudo, você faz parte também, é herdeira do mundo.

Sambinha de viola, pandeiro e roda. Tá quase na hora, vai sair outra vez. Não aprendeu a sambar até hoje, porque já nasceu sabendo. Samba com a sabedoria das crianças, igualzinha, desajeitadamente, dança feito maria mole, com pé de moleque no gramado. Sapato de salto pra quê? Samba sem desejo, sem pose, sem modos, não quis aprender como é que se faz. Só faz porque gosta de fazer. E já nasceu sabendo gostar de samba, que afinal, é de raíz mesmo.

Quando dá vontade vai embora sem avisar, despedidas não! Repara no caminho de volta o que não viu na ida, de saída, destraída. De repente barulinho de chave no portão. Qual é a chave? Qual é a chave certa? Qual? Qual? AH! ESSA! Vai pulando num pé só até o banheiro, segura, aperta, quase que não dá tempo de fechar a maçaneta e -aaaaaaaaah - xixi é tão bom!

Água morna no chuveiro, canto desafindo, espuma , cheiro de sabonete. Vai deitar, quietinha. Junta as mãos, cruza as pernas em cima do colchão, mentaliza, pede o bem de todos, agradece em oração, fecha os olhos. Não fecha a janela, conta estrelas, 1, 2, 3, 4,5, 6 ... 100 ... 1 milhão... até se perder, até cair no sono. Até outro dia.

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