sábado, 23 de janeiro de 2010

Nada do que eu faça, nem de longe, nem de leve, tem a força e nem o poder de me mudar, de me fazer voltar a ser daquele jeito diferente que eu fui, que eu pensava, inclusive, que eu jamais deixaria de ser.
A vontade que me dá de sair correndo pelo mundo, de fechar os olhos e só abrir quando eu sentir o cheiro seguro da felicidade eterna e da liberdade fácil. Ficam me dizendo que pra chegar lá a gente tem mesmo que passar por tudo isso, que tem que sofrer e chorar e doer pra depois ver tudo se encaixar como peças perfeitas, feitas pra acertar a sincronia.
Mas sabe, eu não tenho mais dezoito. Eu não tenho mais dezenove, nem vinte e nem mais vinte e poucos. Os meus vinte agora são mais pra muitos e eu cansei de achar que tudo tem saída porque eu faço parte daquela juventude boa de gente que vai mudar o mundo.O mundo não vai mudar não, e não vai mudar porque nele só tem pessoas vaidosas e mesquinhas, feito eu e você; pessoas que olham por cima dos ombros porque não querem enxergar o outro, mas sim a sua própria bunda.
Tem aquela música que gosto que diz que o amor deve ser a cura pra todos os outros males porque, afinal de contas, as pessoas estão há milênios escrevendo, cantando e profetizando o amor como a cura de tudo. Mas o amor faz mais estrago do que cura. A paixão que consome muito, deixa a gente burro e inconseqüente, faz a gente passar por cima de muita coisa e, muitas vezes, do que realmente importa pra chegar lá no topo da nossa vaidade estúpida, com o nosso ego imenso, gozando na cabeça de todo mundo que serviu de degrau pra nossa escada escrota. Há pessoas que amam o poder mais do que amam as outras pessoas. Como eu disse, nem sempre o amor cura.
Quando você tem os vinte e poucos normalmente você tem, também, aquela sensação de que só gosta de si mesmo e é claro que assim a vida se descomplica mais fácil. Gostar de si mesmo e só de si mesmo é uma delícia, mas a gente estraga achando que amor cura tudo e tem mesmo de tomar cuidado pra não acabar sozinho lá em cima, comemorando a vitória com o vácuo que sobrou dentro do peito. Sabe? É, tem gente que não sabe.
Mas não adianta também se enganar achando que se agarrar ao ideal independente vai ser a saída e que, pra sempre, aquela inconseqüenciazinha gostosa vai ser a saída de tudo. Não é. Não é porque hora mais, hora menos a gente se sente sozinho, porque tem dias que não há nada melhor do que chegar em casa e sentir aquele cheiro de certeza conhecida, sabe? Deitar em qualquer lugar apertado ou espaçoso e respirar o mesmo ar – literalmente – do que aquela pessoa que te conhece por inteiro, com medos, feiúras, neuras, tristezas, sem maquiagem em dia de cabelo ruim e espinha maldita na bochecha.
Amar é uma delícia, não adianta mentir. Ser amado então, nem se fala.
Só que este texto, assim como a minha vida agora, não serve pra falar de amor.
Eu fico tentando enfeitar que é pra ver se eu acho graça de ver que mesmo eu tendo me perdido daquilo que eu sempre soube ser, eu agora sou amada por completo. Mas e o meu amor? Não aquele que eu fiz ser meu e sim o meu mesmo, por mim? Parece mesmo que eu virei adulta demais pra acreditar no meu amor inabalável por mim porque agora eu enxergo com olhos mais sérios as burradas que eu mesma faço e ao invés de gostar de mim, eu só me julgo.
Um texto vago, misturado, raso e meio cretino - já que não faz sentido pra ninguém além de mim - foi tudo o que eu consegui depois de cinco meses de longo jejum. Vai ver é porque é isto, exatamente assim que eu estou agora: vaga, bagunçada, rasa e sim, um pouco cretina.
Conviver demais com gente que não nos acrescenta nada faz isso com a gente porque no mundo real o sonhador é pisoteado em dois minutos. Talvez eu devesse mesmo ter ido estudar letras e artes cênicas, viver de amor lírico, ter uma vida mais modesta e feliz. Mas como qualquer menina idiota de dezessete anos eu me achava muito linda, e inteligente, e especial e amada para me contentar com o riso. Eu queria o sonho. Resultado? Agora eu que agüente passar pelo inferno.
Mas no meio da bagunça e das indagações de ser ou não ser depois que eu, de fato, já sou, uma coisa é certa: se eu tivesse dezessete de novo, eu provavelmente faria tudo igual e escolheria a selva ao sonho porque, no fundo, eu também quero gozar lá de cima na cabeça de todo mundo que pisou na minha pra hoje já estar lá.



DE: Rani Ghazzaoui

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